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Bomba!

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Outra forma de improvisaçom oral em verso

A forma de im­pro­vi­sa­çom can­tada em verso mais co­nhe­cida na Galiza é a re­gueifa, com zona zero em Bergantinhos, e que nos che­gou ao fi­nal do sé­culo XX do co­ra­çom bravú de Pinto de Herbóm e en­trou no sé­culo XXI da mao da Associaçom ORAL. O brindo é a con­tro­vér­sia do Courel. Brindar e re­guei­far som diferentes

sé­chu sende

de­no­mi­na­çons para ex­pres­sons im­pro­vi­sa­das que nal­gum tempo ti­vé­rom as mes­mas fun­çons: c on­tro­vér­sias fes­ti­vas nos ca­sa­men­tos. Também sa­be­mos dou­tra ma­ni­fes­ta­çom em verso que ori­gi­nal­mente tivo umha es­sên­cia im­pro­vi­sada: os atran­ques a cara de cam nos en­trui­dos dos Generais do Ulha.

O Projeto Regueifesta ati­vou-se no curso 2015–2016, a par­tir dos ins­ti­tu­tos de Baio e as Cruzes, para im­pul­sar o re­pente no âm­bito edu­ca­tivo. Até o mo­mento, a Regueifesta está a tra­ba­lhar o pro­cesso de di­na­mi­za­çom do re­pente a par­tir da ex­pe­ri­ên­cia e ba­ga­gem da “re­gueifa”, a mo­da­li­dade mais co­nhe­cida do nosso im­pro­viso. Também se aci­vá­rom ener­gias para o co­nhe­ci­mento e di­na­mi­za­çom do “brindo” do Courel, com a pre­sença vir­tual da brin­deira Angelita de Banho ‑de se­tenta e um anos- no I Encontro de Mulheres Repentistas da Galiza, nas Cruzes, ou o mí­tico en­con­tro in­ter­ge­ra­ci­o­nal en­tre o Ribeira de Louzarela, de no­venta anos, e Alba Maria e Sara Marchena, que ve­nhem de pas­sar os vinte, da can­teira im­pul­sada na Associaçom ORAL em Vigo.

Regueifesta quer atu­a­li­zar o re­pente ga­lego e, para além da re­gueifa e o brindo, neste curso deu-se um passo his­tó­rico: Nuria das Cruzes e Noa de Capón, do IES das Cruzes, re­cu­pe­rá­rom a im­pro­vi­sa­çom num atran­que a cara de cam, para o en­truido dos Generais do Ulha, com a co­la­bo­ra­çom da Associaçom o Velho dos Cornos, de Merza. 

A Regueifesta tem en­tre os seus ob­je­ti­vos ex­pan­dir um pro­cesso de par­ti­ci­pa­çom, açom e in­te­li­gên­cia co­le­tiva, e no en­truido de 2017 en­trou em con­tato com a quarta forma de im­pro­viso ga­lego que cen­tra o nosso in­te­resse. Esta forma de re­pente ga­lego é pouco co­nhe­cida além do seu ter­ri­tó­rio de ori­gem: lu­ga­res de Mormentelos e Castinheira, con­ce­lho de Vilarinho de Conso, Ourense. Estamos a fa­lar das “Bombas”.

O que som as bombas?

sé­chu sende

Entre os lu­ga­res de Castinheira e Mormentelos há umha re­la­çom cul­tu­ral es­pe­cial: no en­truido a vi­zi­nhança das duas al­deias reúne-se numha co­mida e tem lu­gar umha festa de im­pro­vi­sa­çom co­le­tiva. Após o jan­tar, as pes­soas des­tes dous lu­ga­res co­me­çam umha con­tro­vér­sia im­pro­vi­sada. Soam as cho­cas, al­guém berra “Boooomba!”, fai-se o si­lên­cio, e pro­fere-se umha co­pla oc­tos­si­lá­bica, a ri­mar o se­gundo verso com o quarto. Carlos Calvente, de Castinheira, in­for­mou-nos de que as es­tro­fes cos­tu­mam ser de qua­tro ver­sos, mas tam­bém po­dem ser de oito ou doce. 

Ao que se emite umha bomba, a con­tro­vér­sia con­ti­nua: o grupo que re­ce­beu a bomba junta-se para ela­bo­rar a res­posta, cria-se com von­tade co­le­tiva e, umha vez pre­pa­rada em grupo, um dos mem­bros fai-na pú­blica em voz alta. As bom­bas vam-se al­ter­nando e quanto mais ra­pi­da­mente e com quanta mais re­tranca e qua­li­dade se ela­bo­rem as co­plas, me­lhor va­lo­ra­das vam ser. Por ve­zes nom fai falta que se reúna o grupo e a bomba improvisa‑a al­guém, individualmente. 

No ca­pí­tulo 103 do pro­grama da TVG Ailalá po­dem-se ver al­guns frag­men­tos de brin­des e bom­bas im­pro­vi­sa­das so­bre re­la­çons amo­ro­sas ou pes­so­ais, ou te­mas circunstanciais.

Os nos­sos in­for­man­tes, o an­tro­pó­logo Emilio Araúxo, Carlos Calvente e Belén Rodríguez des­ta­cam como im­pro­vi­sa­dora com muito ta­lento Cándida de Mormentelos: muito rá­pida e com muita re­tranca e cri­a­ti­vi­dade. Mas para além da agu­deza in­di­vi­dual, a ori­gi­na­li­dade desta forma de im­pro­vi­sa­çom é o seu ca­rá­ter coletivo.

Ramóm Pinheiro Almuínha, no seu li­vro Repente Galego, re­fe­ren­cia os fo­li­ons das la­dei­ras oci­den­tais do ma­ciço cen­tral ou­sen­sano como ma­ni­fes­ta­çons onde “o pro­ta­go­nismo atin­gido pola per­cus­som nes­tas re­pre­sen­ta­çons re­le­gou o re­curso à uti­li­za­çom dos ver­sos ‑me­mo­ri­za­dos ou re­pen­ti­za­dos- a um se­gundo plano, e só em mo­men­tos muito con­cre­tos chega a co­brar ver­da­deiro protagonismo.” 

Do ponto de vista do Projeto Regueifesta, as Bombas de Mormentelos e Castinheira te­nhem um alto in­te­resse edu­ca­tivo e cul­tu­ral para a atu­a­li­za­çom do sis­tema de im­pro­vi­sa­çom da Galiza: am­pliam o re­per­tó­rio de mo­da­li­da­des do re­pente ga­lego, te­nhem vi­ta­li­dade e fun­çom so­cial, há gente nova im­pli­cada na trans­mis­som in­ter­ge­ra­ci­o­nal, ofe­re­cem no­vas ca­rac­te­rís­ti­cas para de­sen­vol­ver: es­tro­fes de 4, 8 ou 12 ver­sos, in­tro­du­zem ele­men­tos cé­ni­cos e mu­si­cais no­vos: ves­ti­men­tas, per­cus­som, som de cho­cas…; te­nhem um alto po­ten­cial di­na­mi­za­dor de gru­pos e, ainda que tam­bém per­mite a in­ter­ven­çom in­di­vi­du­a­li­zada, as bom­bas in­tro­du­zem o ele­mento da com­po­si­çom co­le­tiva, da in­te­li­gên­cia e a açom comunitária.

Leo Campos, que par­ti­ci­pou em vá­rios en­con­tros, as­se­gura que “É im­pres­si­o­nante. Todo o mundo está ca­lado, ses­senta pes­soas em si­lên­cio, dis­cor­rendo ver­sos, no clí­max da festa”. Destaca a im­por­tân­cia do en­con­tro co­le­tivo, do es­pí­rito cooperativo.

relaçons interculturais

sé­chu sende

Quando des­co­bri­mos as bom­bas dos brin­des de Mormentelos e Castinheira, Pedro Romeo, ex do grupo Linho do Cuco, lem­brou-nos a banda me­xi­cana, La Maldita Vecindad, que che­gou a nós nos no­venta do pas­sado sé­culo com o disco El Circo. No clí­max do tema Mare, para-se a mú­sica, o can­tante berra: Bomba! e pro­nun­cia umha quar­teta oc­tos­si­lá­bica ri­mando o se­gundo com o quarto verso.

O cu­bano Alexis Diaz Pimienta no seu Glosario de la dé­cima y la im­pro­vi­sa­ción poé­tica di que a bomba é “Cançom im­pro­vi­sada em forma de co­plas em Nicaragua, México (Iucatám) e ou­tras zo­nas de América Central. À voz de bomba! Alguns par­ti­ci­pan­tes fa­ziam gala de en­ge­nho em co­plas im­pro­vi­sa­das, pi­ca­res­cas, in­ten­ci­o­na­das e gra­ci­o­sas, que eram ce­le­bra­das com ri­sos e aplau­sos po­los presentes”.

José Manuel Pedrosa, num ar­tigo so­bre as bom­bas de Iucatám, como gé­nero de can­çom e de dança, si­tua a sua ori­gem na pe­nín­sula ibérica. 

final

Para ir fe­chando este pri­meiro e ur­gente ache­ga­mento às bom­bas, que­re­mos as­si­na­lar ou­tro ele­mento que para a Regueifesta é im­por­tante, um fa­tor territorial.

Se a re­gueifa se iden­ti­fica atu­al­mente de forma ge­ral ‑ainda que nom ex­clu­siva- com as co­mar­cas co­ru­nhe­sas de Bergantinhos ou Jalhas, e o Brindo nos si­tua no Courel lu­guês ‑e parte do Berço- , e os atran­ques a cara de cam dos Generais do Ulha nos le­vam ao Deça pon­te­ve­drês ‑ainda que tam­bém al­can­çam Compostela- agora as bom­bas po­dem ache­gar-nos a ener­gia cri­a­tiva das ter­ras ou­ren­sa­nas de Vilarinho de Conso e Viana do Bolo. De facto, o IES Carlos Casares de Viana já está a co­la­bo­rar com este pro­jeto de atu­a­li­za­çom do re­pente ga­lego que com as bom­bas si­tua fe­nó­me­nos de im­pro­vi­sa­çom oral nas qua­tro pro­vín­cias da Galiza ad­mi­nis­tra­tiva atual.

Do Projeto Regueifesta ale­gramo-nos imenso de es­tar a des­co­brir que a ener­gia do re­pente ga­lego, ‑so­mando-lhe, evi­den­te­mente, for­mas de im­pro­vi­sa­çom como o fre­estyle da cul­tura RAP,- ori­gina um novo es­paço de ex­pres­som para a gente nova. 

A pró­pria gente nova está a criar no­vos dis­cur­sos, ao des­co­brir na im­pro­vi­sa­çom oral em verso umha opor­tu­ni­dade para o de­sen­vol­vi­mento pes­soal e para a par­ti­ci­pa­çom num mo­vi­mento so­ci­o­cul­tu­ral co­o­pe­ra­tivo, trans­for­ma­dor, crí­tico, de cri­a­çom de vín­cu­los de iden­ti­dade co­le­tiva e, so­bre­tudo, es­pe­ci­al­mente di­ver­tido, lú­dico e ex­tra­or­di­na­ri­a­mente livre.

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